site de poesias coligidas de
F E R N A N D O   P E S S O A
http://www.fpessoa.com.ar

<<Voltar-Volver>>


Meto-me Para Dentro
Meto-me para dentro, e fecho a janela.
Trazem o candeeiro e dão as boas noites,
E a minha voz contente dá as boas noites.
Oxalá a minha vida seja sempre isto:
O dia cheio de sol, ou suave de chuva,
Ou tempestuoso como se acabasse o Mundo,
A tarde suave e os ranchos que passam
Fitados com interesse da janela,
O último olhar amigo dado ao sossego das árvores,
E depois, fechada a janela, o candeeiro aceso,
Sem ler nada, nem pensar em nada, nem dormir,
Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito,
E lá fora um grande silêncio como um deus que dorme.
Métome para adentro, y cierro la ventana.
Traen el candil y dan las buenas noches,
Y mi voz contenta da las buenas noches.
Ojalá que la vida sea siempre esto:
El día lleno de sol, o suave de lluvia,
O tempestuoso como si acabara el Mundo,
La tarde suave y los contingentes(*) que pasan
Mirados con interés desde la ventana,
El último mirar amigo dado al sosiego de los árboles,
Y después, cerrada la ventana, el candil prendido,
Sin leer nada, ni pensar en nada, ni dormir,
Sentir la vida correr por mí como un rio por su lecho,
Y allá fuera un gran silencio como un dios que duerme.
O Guardador De Rebanhos
Alberto Caeiro
10-05-1914

(*) N.d.T: No encuentro equivalencia de rancho en castellano, grupo de personas en paseo, marcha, jornada o trabajo.

©2004-12-27 by Sebastián Santisi, all rights reserved.


<<Voltar-Volver>>