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Vós Que, Crentes
Vós que, crentes em Cristos e Marias,
Turvais da minha fonte as claras águas
Só para me dizerdes
Que há águas de outra espécie

Banhando prados com melhores horas
Dessas outras regiões pra que falar-me
Se estas águas e prados
São de aqui e me agradam?

Esta realidade os deuses deram
E para bem real a deram externa.
Que serão os meus sonhos
Mais que a obra dos deuses?

Deixai-me a Realidade do momento
E os meus deuses tranqüilos e imediatos
Que não moram no Vago
Mas nos campos e rios.

Deixai-me a vida ir-se pagãmente
Acompanhada pelas avenas tênues
Com que os juncos das margens
Se confessam de Pã.

Vivei nos vossos sonhos e deixai-me
O altar imortal onde é meu culto
E a visível presença
Os meus próximos deuses.

Inúteis procos do melhor que a vida,
Deixai a vida aos crentes mais antigos
Que a Cristo e a sua cruz
E Maria chorando.

Ceres, dona dos campos, me console
E Apolo e Vênus, e Urano antigo
E os trovões, com o interesse
De irem da mão de Jove.
Vosotros que, creyentes en Cristos y Marías,
Turbais de mi frente las claras aguas
Sólo para que me digáis
Que existen aguas de otra especie

Bañando prados con mejores horas
¿De esas otras regiones para qué hablarme
Si estas aguas y prados
Son de aquí y me agradan?

Esta realidad los dioses dieron
Y para bien real la dieron externa.
¿Qué serán mis sueños
Más que la obra de los dioses?

Dejadme la Realidad del momento
Y de mis dioses tranquilos e inmediatos
Que no viven en el Vago
Pero sí en los campos y ríos.

Dejadme la vida irse paganamente
Acompañada por las zampoñas tenues
Con que los juncos de las márgenes
Se confiesan a Pan.

Vivid vuestros sueños y dejadme
El altar imortal donde está mi culto
Y a visible presencia
Mis próximos dioses.

Inútiles procos de lo mejor que la vida
Dejad la vida a los creyentes más antiguos
Que a Cristo y a su cruz
Y María llorando.

Ceres, dueña de los campos, me console
Y Apolo y Venus, y Urano antiguo
Y las centellas, con el interés
De ir de la mano de Jove.
Odes De Ricardo Reis
Ricardo Reis

©2005-01-18 by Sebastián Santisi, all rights reserved.


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